


Lizoel Costa
Olho comovido o sono da gata Sophie deitada entre almofadas espalhadas na sala da casa materna. Desde pequeno aprendi a admirar os gatos. Eles não sabem, nem sonham, que o sonho comanda a vida.
Sempre que um homem sonha, o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos duma criança. Mas a altivez dos felinos, que ignoram as revoluções cotidianas, presente na gata Sophie me marcou pelo resto da vida.
Sophie e todos os outras gatos, não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida como outra coisa qualquer, E assim, no pulso dos dias, sinto chegar outro inverno... passam as horas esguias e, no desespero desse vazio, vejo o felino deitado num sono que desdenha o futuro e os imuniza contra as preocupações terrenas.
Já se disse que os felinos são Deuses personificados nas esfinges egípcias. Enquando dormem o sono dos eternos, os meus sentidos anseiam pela paz das noites tropicais em que o ar parece mudo, e o silêncio envolve toda a sede.
Sempre busquei em minha vida, conseguir a paz fechada desses seres acima das intempéries do nosso cotidiano. Os gatos são metáforas bem construidas de nossas idealizações.Quiséramos ser como eles, Tingindo de paixão a madrugada, numa forma de existir... existir sem sofrimento.
Tal qual os gatos, deveríamos buscar na placidez o alimento, Tornar menos pesada a nossa imagem. Como eles, estar, mas num estar que é viagem, deixar adormecer o pensamento, não haver marcas da nossa passagem.
Entre o cio e a cópula,o gato não ama. Ele busca o parceiro sem tempo na alma. Nenhuma voz lhe fala de morte. É no presente que o gato existe. Por isso amo esse sentido de denúncia felina. Esse mistério que embala a imaginação de toda uma civilização desde que o homo sapiens pisou neste planeta.
Há algo em seus olhos cristáleos, de anseios há muito mortos, de onde sobraram amarguras dissolvidas em um mar. Um mar salgado que chora cantos de não mais voltar...
Por isso, não se pode desdenhar um gato. Do seu repouso claro e lento, surgem luas nascidas longe, na noite semeada de astros que palpitam corações imensos se esvaindo em noites desdobradas num rosário de auroras sucessivas.
Suas sete vidas vivem acima de sete limites dos sonhos humanos, cheias de mistérios ancestrais de um passado que não volta mais.
Perdido em minhas reflexões, vejo Sophie se levantar, dar um secular bocejo e concluo que, de um gato, não se pode ignorar o porte, o faro, e o olhar. Só eles sabem passear independentes num estuário de silêncio.
2 comentários:
Os gatos não sabem amar...
Os gatos não sabem racionar...
Os gatos não entendem o que lhes acontece...
Mas os gatos são ternos e mansos.
Como seres superiores a eles, devemos buscar o equilibrio a todo instante, pois somos conscientes de tudo que nos acontece, sabemos amar e raciocinar e mesmo assim, às vezes, nos tornamos pessoas iradas e agressivas.
Não temos desculpa para esta atitude.
Parabéns Lizoel, pelo belo texto!
beijos a todos!!!
Gostei muito deste texto do Lizoel, sobre a gata Sophie...( da elite, tem nome francês.)
Ele soube defini-la em sua calma, equilíbrio, harmonia, enfim , com seu instinto e inteligência como atributo essencial, tomando conhecimento de sua própria vida neste Planeta... E ele imagina que ela SONHA... Que lindo, isso ! Teria alma a Sophie? Porque dizem que só quem tem alma ...Sonha!
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